Summary: | Introdução: As mudanças ocorridas nas organizações de saúde, e nos cuidados que aí são prestados, motivados pelas contingências financeiras impostas, exigiram, por parte das equipas prestadoras de cuidados, uma utilização racional dos recursos disponíveis onde, cada vez mais, os doentes se apresentam exigentes, conhecedores e informados dos seus direitos. É neste contexto que surge a problemática dos cuidados de enfermagem omissos (CEO) que são definidos como os que são deixados por fazer ou significativamente adiados, situação que pode comprometer a qualidade dos cuidados prestados e a segurança dos doentes (Ausserhofer et al., 2014). Objetivos: Identificar os CEO existentes em cuidados de saúde primários e quais os fatores preditores dessa omissão. Metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura de estudos indexados na base de dados EBSCOhost e no consórcio B-on. Foram selecionados com base em critérios pré-definidos 12 artigos, publicados entre 2016 e 2021. Resultados: Os CEO identificados em cuidados de saúde primários são: cuidados domiciliários (administração de injetáveis, promoção da integridade cutânea/realização de tratamento à ferida e aconselhamento para a manutenção do estado de saúde), gestão de cuidados (acesso aos cuidados, criação de protocolos de atuação), suporte ao cuidador informal, acompanhamento dos idosos em consultas de enfermagem (cuidados crónicos, paliativos ou de saúde mental) e de follow-up bem como a monitorização de situações abusivas, campanhas de promoção da saúde (alimentação saudável, exercício físico, bem-estar emocional e de vacinação), acompanhamento de grupos vulneráveis, acompanhamento e supervisão de estudantes de enfermagem, visitas pós-natal, monitorização da saúde materna (suporte no aleitamento materno), acompanhamento de saúde infantil (desenvolvimento, saúde escolar, vacinação, situações de risco), documentação dos cuidados e participação em investigações/reuniões científicas. Relativamente aos fatores preditores, estes estão relacionados com o doente (estado de saúde/volume de trabalho), com o enfermeiro (interrupções pelos diferentes profissionais ou familiares dos doentes), com os recursos materiais ou equipamentos (atrasos no fornecimento) ou com as políticas de cuidados da instituição de saúde (gestão/liderança e dotações). A comunicação enfermeiro-doente/família foi considerada CEO sendo que a comunicação enfermeiro-outro profissional de saúde emerge como um fator preditor dos mesmos já que o trabalho em equipa e sua eficácia são comprometidos. Os interesses individuais e o sentido de moralidade do enfermeiro podem influenciar a ocorrência de CEO em que as estratégias minimizadoras da sua incidência devem dar resposta às necessidades de cada contexto. Conclusões: Os CEO são uma problemática estudada internacionalmente, no entanto na realidade portuguesa tem sido subvalorizada. A diversidade de estudos analisados impossibilita generalizações tornando-se necessário estudar este fenómeno em diversos contextos bem como o impacto desta omissão no prognóstico do doente/família onde o objetivo global será garantir a maximização da excelência dos cuidados de saúde e na valorização dos cuidados por parte das populações.
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