Os sons da morte: estudo sobre a sonoridade ritual e o cerimonial fúnebre por D. Maria I, no Brasil e em Portugal (1816-1822)

A dimensão da espectacularidade que a morte assumiu durante a idade moderna permitiu aos monarcas europeus, através de um complexo sistema de representações – do qual se destaca o aspecto sonoro –, a produção de um sofisticado programa artístico integrado na política de perpetuidade da memória Real,...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Paula, Rodrigo Teodoro de (author)
Formato: doctoralThesis
Idioma:por
Publicado em: 2020
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10362/28839
País:Portugal
Oai:oai:run.unl.pt:10362/28839
Descrição
Resumo:A dimensão da espectacularidade que a morte assumiu durante a idade moderna permitiu aos monarcas europeus, através de um complexo sistema de representações – do qual se destaca o aspecto sonoro –, a produção de um sofisticado programa artístico integrado na política de perpetuidade da memória Real, inclusivamente, para os seus mais distantes súbditos. Essa política visava, em Portugal, a reprodução de modelos rituais, por todo o reino, associados principalmente a três categorias sonoras básicas: brônzea (a prática sineira), bélica (o aparato sonoro militar) e musical. A presente tese visa o estudo sobre as formas com que essas categorias se articulavam ao constituir a sonoridade ritual dos funerais régios portugueses, desde os sufrágios pela enfermidade dos monarcas, a administração dos últimos sacramentos, o anúncio público da morte (bandos), a cerimónia municipal da Quebra dos Escudos, o cortejo fúnebre, as Exéquias, até ao sepultamento. Apresentaremos como objecto focal as cerimónias realizadas no Brasil e em Portugal pela morte da rainha D. Maria I, falecida na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de Março de 1816 – o primeiro funeral de um monarca português em terras brasileiras – e que teve o seu corpo trasladado para Lisboa, em 1822, onde se realizaram solenemente as suas “segundas exéquias”. Propomos, assim, uma análise sobre a utilização do som enquanto parte da representação simbólica do poder, sobre a constituição e difusão de modelos sonoros aplicados ao cerimonial fúnebre português – através do estudo da sistematização dos toques dos sinos, dos protocolos civis e militares dedicados às honras fúnebres, da liturgia e do reportório musical destinado a esse cerimonial – e também sobre o impacto socio-cultural dessas acções, caracterizadas por sua larga abrangência geográfica.