Do Mediterrâneo aos mares do sul : heróis navegantes na poesia de Eugénio de Andrade

A poesia de Eugénio de Andrade convoca e homenageia protagonistas de lendas, mitos e outras narrativas ficcionais, numa atmosfera de intertextualidade endoliterária, quase sempre explícita. Embora predominem claramente figuras greco-latinas (Ulisses, Eneias, Aquiles, Hércules, Ariadne, Circe, etc.),...

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Bibliographic Details
Main Author: Mancelos, João de (author)
Format: article
Language:por
Published: 2016
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.6/4263
Country:Portugal
Oai:oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/4263
Description
Summary:A poesia de Eugénio de Andrade convoca e homenageia protagonistas de lendas, mitos e outras narrativas ficcionais, numa atmosfera de intertextualidade endoliterária, quase sempre explícita. Embora predominem claramente figuras greco-latinas (Ulisses, Eneias, Aquiles, Hércules, Ariadne, Circe, etc.), também se encontram na sua poesia referências a elementos celebrados noutras tradições míticas e/ou literárias (o Green God celta, a sereia nórdica, Ahab, etc.). Nesta comunicação, recorro a uma abordagem comparatista para analisar as referências tecidas exclusivamente a heróis navegantes na obra eugeniana. Destaco Ulisses, protagonista da Odisseia homérica; Ahab, o destemido capitão do romance de aventuras Moby Dick, de Herman Melville; sem esquecer, como personagem coletiva, os pescadores do litoral norte português, gente anónima que Eugénio celebra. Se “a terra dos mitos é redonda”, como argumentou Claude Lévi-Strauss, pretendendo que o enredo de certas lendas e o perfil de determinadas personagens míticas são semelhantes aos que surgem noutros tempos e lugares, que apresentam em comum heróis do mar como Ulisses e Ahab? Como concretizam estas figuras os arquétipos junguianos: herói e jornada? Que procura Eugénio na figura dos navegantes? Alguns dos resultados esperados desta análise: a) Existe uma persistência do arquétipo do herói, tanto nos mitos registados/criados por Homero e Virgílio, como na escrita de Melville e Eugénio; b) Estes últimos autores reciclam o herói nas respetivas obras, através de influência e intertextualidade: Ahab tem sido descrito como o “Ulisses norte-americano”, enquanto Eugénio o considera um exemplo de perseverança; c) As personagens referidas constituem modelos masculinos de exploradores e lutadores; d) A viagem marítima corresponde, mítica e literariamente, ao percurso iniciático, que eleva o explorador ao estatuto de herói e, no caso de Ahab, a herói-mártir; e) Eugénio procura na figura do herói (arquétipo que engloba o sábio e o pai), a figura paternal que nunca teve. Para escorar as minhas opiniões, recorro à obra de Eugénio de Andrade (à poesia e aos livros de apontamentos biográficos Os Afluentes do Silêncio, Rosto Precário, À Sombra da Memória); aos textos de Homero (Odisseia) e Melville (Moby Dick); ao trabalho de especialistas reputados na área da intertextualidade, mitologia, e teoria dos arquétipos; à investigação de estudiosos da poesia eugeniana.