Resumo: | O dispositivo de governo da vida na rua é a rede de elementos cuja acção, de modo mais ou menos directo, influencia a forma do fenómeno dos sem-abrigo. Na mundividência global do dispositivo, os sem-abrigo são percebidos como indivíduos anormais e/ou anormativos cuja insuficiência fundamental leva a que vivam na rua. Deste modo, inserir cada sem-abrigo numa relação tutelar com um profissional assistencialista na qual se incentivará a sua resubjectivação é percebida como a única solução possível para cada saída individual da rua. Contudo, a relação tutelar de facto existente apresenta-se como uma forma de dominação na qual os sem-abrigo são feitos aceitar a sua posição desqualificada. Usando como base empírica da reflexão a cedência de moradas institucionais a sem-abrigo para que estes possam receber correspondência, o texto aborda diferentes exercícios e lógicas de poder pelas quais o dispositivo procura tornar os sem-abrigo submissos na sua posição sociopolítica.
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