Resumo: | No século de história da moderna Linguística pós-saussureana, a dimensão lógica e racional das línguas foi a vertente tida como o principal elemento estruturador, enquanto outros, mais ligados à emotividade, vistos como de menor importância. As interjeições foram, assim, uma categoria nitidamente negligenciada, porque tidas como elementos marginais da estrutura do sistema linguístico que apenas servem para revelar uma parte da dimensão emocional das línguas. Ora essa dimensão pode atingir limites considerados não deverem ser ultrapassados, como os que distinguem a língua aceitável das palavras normais da inaceitável das palavras não normais, dos “palavrões”, da linguagem do calão. E como muitas das interjeição roçam ou se apoiam em “palavrões”, o interesse por estas duas áreas das partes do discurso tem sido bastante refreado, funcionado este pouco interesse como a cerca sanitária que impede a contaminação do que verdadeiramente deve interessar às ciências da linguagem. No entanto, quando a Linguística se debruça sobre a língua quotidiana real e não apenas sobre a dos textos formais, a dimensão emotiva, as interjeições e o calão mostram como, para tentar perceber o funcionamento real das línguas, o estudo da dimensão emotiva não pode ser completamente afastado. Assim, a partir de um corpus oral de 90 entrevistas integradas no projeto Perfl Sociolinguístico da Fala Bracarense procurar-se-á mostrar a importância das duas componentes (as interjeições e o calão) como essenciais, não apenas para a caraterização da variedade de fala da região de Braga, mas, igualmente, para percebermos o funcionamento das línguas holisticamente consideradas.
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