Summary: | De acordo com os psicólogos evolucionistas, os traços considerados atraentes são em grande parte universais e são sinais confiáveis de posse de bons genes, boa saúde, personalidade desejável e mais sucesso reprodutivo. Várias investigações demonstram que a memória funciona de um modo adaptativo sendo particularmente eficaz quando as pessoas pensam em informação num contexto relacionado com a sobrevivência. Contudo, ainda não se sabe se este enviesamento se estende ou não à memória para faces em função do seu nível de atratividade, um aspeto também relevante do ponto de vista evolutivo, ou à memória para faces de indivíduos considerados potenciais bons parceiros sexuais para uma relação a longo prazo. Assim, o objetivo desta investigação é averiguar se a associação de traços sociais (considerados desejáveis, neutros ou indesejáveis num contexto de procura de um parceiro sexual) a faces masculinas influencia a avaliação posterior da atratividade destas faces, assim como o seu posterior reconhecimento, por participantes do sexo feminino. O estudo está dividido em duas experiências que contam, cada uma delas, com uma amostra de conveniência constituída por 36 estudantes da Universidade de Aveiro. Os resultados das experiências apontam para a ausência de diferenças estatisticamente significativas entre as avaliações de atratividade das faces alvo quando previamente associadas a características desejáveis, neutras ou indesejáveis (classificação obtida através de estudo piloto). Contudo, quando considerada a classificação atribuída pelas participantes numa tarefa de avaliação da desejabilidade de faces associadas a estas características, observa-se uma tendência para avaliar as faces previamente consideradas "desejáveis" como mais atraentes, num segundo momento de avaliação (vs. primeira avaliação da atratividade isenta de associação a traços sociais), comparativamente a faces consideradas previamente como "neutras" ou "indesejáveis". Verificou-se ainda uma proporção de acertos relativamente baixa na tarefa de reconhecimento de faces, embora seja significativamente diferente do acaso. Adicionalmente, na Experiência 2 verificámos uma vantagem mnésica para as faces atraentes comparativamente com as restantes. Os resultados obtidos sugerem que a associação de características desejáveis a faces masculinas não tem influência na avaliação da atratividade facial, nem no seu reconhecimento posterior. Estes dados devem ser considerados apenas como exploratórios dados os baixos níveis de atratividade obtidos (e que podem ter limitado a influência dos descritores na consideração dos itens), assim como os baixos níveis de performance obtidos na tarefa de reconhecimento. Apresentamos sugestões para estudos futuros.
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