Resumo: | Fabuloso campo de interconexões artísticas e comunicativas, o cinema merece, sem qualquer dúvida, o qualificativo que a expressão “sétima arte” lhe confere. Nele confluem as estratégias e as técnicas que a literatura, o teatro, a ópera, a pintura, a fotografia (para referir apenas as mais clássicas) compartilham. Mas se um filme é um espaço de múltiplos jogos, é também (e prototipicamente) um espaço de narrativa, um espaço de linguagens estruturado não apenas na linguagem verbal, mas em tudo o que esta envolve. Os mais recentes desenvolvimentos das ciências cognitivas, por outro lado, fizeram evidenciar o papel que as associações do tipo metafórico e metonímico desempenham na cognição e perceção da realidade. A metáfora e metonímia deixam de ser vistas, nesta perspetiva, apenas como artifícios retóricos e passam a ocupar o lugar central na explicação das perceções que fazemos sobre o mundo. Dentro deste âmbito, e usando o filme Match Point de Woody Allen como exemplo, propõe-se demonstrar a importância que a metáfora e a metonímia, num enquadramento cognitivo e não apenas retórico, possuem para a estruturação das obras cinematográficas, como a realização pode jogar quer com os mecanismos metafóricos, quer com os de tipo metonímico e evidenciar como as duas possibilidades (metáfora e metonímia) por vezes se fundem (daí o aproveitamento do conceito de metaftonímia), o que faz do fenómeno metáfora-metonímia não uma díade discreta, como classicamente se entende, mas antes um todo contínuo, como várias perspetivas dentro das ciências cognitivas propõem.
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