Summary: | Introdução: Nos últimos anos assistiu-se a uma notável evolução no conhecimento da fisiopatologia da artrite reumatóide (AR). A descoberta do factor de necrose tumoral α (TNF-α), como um importante mediador do processo inflamatório e do dano tecidual característicos desta doença, conduziu ao desenvolvimento de novos agentes terapêuticos que antagonizam a sua acção. Apesar da sua elevada eficácia e selectividade, a segurança dos inibidores do TNF-α tem sido questionada devido à ocorrência de complicações associadas ao seu uso, nomeadamente infecção por Mycobacterium tuberculosis e outras infecções oportunistas. Dado o seu elevado potencial imunotóxico, torna-se então necessário identificar marcadores com valor preditivo na identificação de doentes com elevado risco de desenvolver infecção, com vista à diminuição de complicações durante a exposição à terapêutica biológica. Objectivo: Identificar biomarcadores com possível valor predictivo no desenvolvimento de infecções após exposição a terapêutica anti-TNF-α. Métodos: Realizou-se um estudo observacional descritivo, incluindo uma amostra de 26 doentes com AR, seguidos no serviço de Consultas de Doenças Auto-Imunes da Unidade Local de Saúde da Guarda (CDAI-ULSG), que fizeram terapêutica biológica até Dezembro de 2010. Foram recolhidos os parâmetros hematológicos e imunológicos habitualmente utilizados na monitorização clínica da AR e dos resultados terapêuticos. Resultados: A amostra era maioritariamente do sexo feminino (88,5%) com média de idades de 55 anos ± 14. Após terapêutica anti-TNF-α observaram-se diferenças significativas nas médias dos parâmetros, nomeadamente no valor mínimo dos leucócitos, neutrófilos, eritrócitos, plaquetas, volume plaquetar médio (MPV) e índice de distribuição das plaquetas (PDW), bem como no valor máximo de eosinófilos, linfócitos, MPV e PDW. Observaram-se 5 casos de infecção dos quais 4 estavam em tratamento com infliximab e 1 com etanercept. Os doentes que desenvolveram complicações infecciosas apresentaram níveis significativamente mais elevados do PDW mínimo (16,8 vs 13,5 fL) antes da terapêutica anti-TNF-α e níveis mais baixos do MPV mínimo (7,6 vs 9,2 fL) e concentração inferior do factor do complemento C4 (16 vs 30 mg/dL) durante a terapêutica anti-TNF-α, comparativamente aos doentes que não desenvolveram complicações infecciosas. Conclusões: O PDW, MPV e o C4 apresentam variações significativas nos doentes que desenvolveram infecção após exposição a terapêutica anti-TNF-α. São necessários mais estudos para confirmação destes resultados e avaliação da aplicação clínica destes marcadores na previsão e monitorização do risco de infecção em doentes com AR, tratados com terapêutica biológica, para minimizar os riscos associados aos efeitos imunossupressores.
|