Resumo: | O presente estudo visou identificar a função, objetivos e relevância do ensino das línguas maternas ao lado do português no sistema educativo em Moçambique. Foi analisado o ensino de Xi-changana em duas escolas que ministram o ensino bilingue, buscando verificar o nível de adesão dos pais ao programa, existência de recursos materiais para professores e estudantes, o grau de satisfação dos alunos por estudar na sua língua materna e a existência de professores com formação específica. Procurou, também, identificar a demanda de funcionários ou empregados com conhecimento das línguas moçambicanas na modalidade escrita no mercado de trabalho. O estudo revelou que, apesar de se considerar o uso das línguas maternas um programa com êxito no processo de ensino,este deixa certas dúvidas quanto à sua eficaz condução: por um lado, os professores que ensinam as línguas moçambicanas não tiveram uma aprendizagem escolar das mesmas, ministrando as aulas com base na “ experiência “ tida em contacto com a escrita no ambiente religioso ou aprendizagem por curiosidade. Por outro lado, a falta de recursos materiais para o professor e alunos constitui um obstáculo à concretização do programa, visto que os programas de ensino são traduzidos do português para as línguas nacionais e não existem livros de leitura para todos os alunos. O ponto de vista dos país e encarregados de educação é divergente, existindo, por um lado, os que apoiam a sua introdução como forma de valorização das suas línguas nativas e, por outro, os que o rejeitam, dando preferência à língua portuguesa com o argumento de que o ensino em línguas locais visa a atrasar as crianças no acesso à língua portuguesa, uma língua que dá possibilidade de empregabilidade e acesso ao estatuto privilegiado. O mercado de emprego não exige o conhecimento escrito das línguas moçambicanas de origem bantu e, quando elas são mencionadas nos anúncios de vagas, o seu conhecimento é considerado como uma vantagem, o que não sucede com as línguas como a portuguesa e inglesa de que se exigem os domínios oral e escrito. Nas instituições públicas, privadas e nas escolas não se publicam documentos em línguas locais, sugerindo a falta da sua valorização.
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