Resumo: | A dicotomia entre Estados mais ou menos influentes é uma condição quase tão antiga quanto a própria existência do Estado. As questões relativas a poder e influência têm sido largamente debatidas ao longo dos anos e extensivamente exploradas pela literatura, podendo ser consideradas como constantes no cenário político. Recentemente, a partir do contexto acarretado pela crise da zona euro, as discussões em relação à disparidade entre Estados voltaram ao protagonismo no continente europeu. Aos Estados-membros credores, responsáveis por contribuir com os fundos de resgate financeiro, foi muitas vezes atribuída a pressuposição de influência sobre o âmbito institucional da União Europeia durante o período da crise. Dois Estados membros sobressaem na discussão acerca da influência: Alemanha e França. O histórico do eixo franco-alemão na integração europeia associado ao facto de terem estado entre os Estados-membros que mais contribuíram para os fundos de resgate financeiro contribuiu para que estes estivessem no centro dos debates acerca da influência de Estados mais fortes sobre o âmbito institucional da União Europeia. Porém, até o momento, o nível de influência da Alemanha e da França neste contexto não foi mensurado. Neste trabalho o que buscamos investigar é se Alemanha e França foram capazes de influenciar as medidas tomadas durante a crise da zona euro. Para tal, a instituição Europeia de escolha foi a Comissão Europeia – órgão cuja função pressupõe imparcialidade. Esta investigação foi feita a partir de análise de conteúdo por meio de método misto, com uma fase quantitativa e uma qualitativa. Foram analisados documentos de chefes de governo e ministros responsáveis por assuntos da zona euro do ano de 2006 a 2016, de modo que fosse possível identificar a variação de influência antes, durante e após a crise. Na fase quantitativa os documentos foram analisados a partir de um código em R chamado Wordfish, cuja função é analisar as frequências de palavras em determinados documentos de texto para estimar posicionamentos políticos. Já na fase qualitativa, a análise de conteúdo foi feita por meio de hand-coding com um codebook adaptado que incorpora variáveis do Projeto Manifesto. Através desta análise, neste trabalho os resultados encontrados sugerem que a influência sobre a Comissão Europeia no momento da crise parte maioritariamente da Alemanha. Portanto, os resultados desta investigação indicam maior preponderância dos interesses alemães durante a crise.
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