Resumo: | São raros os casos de música programática ou descritiva na guitarra clássica, que tenham como objetivo primordial a realização de um retrato sonoro de um determinado lugar, num momento histórico particular. Não conhecemos investigações realizadas até este momento que tenham este tópico como objeto de estudo, ou seja, da utilização de metáforas e signos icónicos para evocar determinados elementos de uma paisagem sonora, com o fim de criar uma imagem mental específica no ouvinte, na música composta para guitarra solo. Temos escolhido para o nosso estudo duas obras paradigmáticas do repertório guitarrístico com estas características, publicadas ambas em Paris, nos séculos XIX e XX, de Fernando Sor (1778-1839) e de Francis Kleynjans (1951-), respetivamente. A primeira obra selecionada é Fantaisie Villageoise pour guitare seule Composée et dédiée à Mr. Denis Aguado par son amì Ferdinand Sor, op. 52 e a segunda é A l'aube du dernier jour, op. 33, à Roberto Aussel. Os autores que temos abordado mostram alguns pontos em comum, apesar dos seus diferentes estilos e épocas, porque ambos recorrem à metáfora musical e ao uso das chamadas técnicas estendidas na guitarra, para produzir efeitos identificáveis, do nosso ponto de vista, como onomatopeias musico-instrumentais. Nas obras referidas aparecem citações de elementos que evocam, em Sor, a vida aldeana, provavelmente algures em Espanha no início do séc. XIX, e na obra de Kleynjans, a atmosfera de uma prisão de Paris durante a Revolução Francesa.
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