Desenhando a música : análise da composição e da escuta a partir do conceito peirceano de diagrama

A questão central desta investigação pode ser assim enunciada: como pensar a mediação entre som e música, a passagem do sonoro ao musical, sem pressupor qualquer tipo de esquema transcendental — estruturas matemáticas ou formais, gramáticas ou qualquer tipo de código que delimite a priori as possibi...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Jonas De Aguiar, Vinicius (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2022
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10451/53687
Country:Portugal
Oai:oai:repositorio.ul.pt:10451/53687
Description
Summary:A questão central desta investigação pode ser assim enunciada: como pensar a mediação entre som e música, a passagem do sonoro ao musical, sem pressupor qualquer tipo de esquema transcendental — estruturas matemáticas ou formais, gramáticas ou qualquer tipo de código que delimite a priori as possibilidades da música? Como pensar um sentido musical que não esteja dado a priori numa regra de síntese qualquer? A problemática que investigamos tem reaparecido com alguma frequência na filosofia, ao menos desde a última crítica de Immanuel Kant, e sobretudo em pensadores do século XX como Theodor Adorno e Gilles Deleuze. Com efeito, há uma forte tradição musical — teórica e prática, de Pitágoras ao Programa — segundo a qual o sentido musical só é gerado quando, sobre os sons musicalmente desinformados, se sobrepõe algum tipo de esquema racional (i.e. razões, proporções, logoi). É, pois, no limite dessa abordagem — que hoje, na era da programação ubíqua, abunda — que surge o referido tema desta investigação. Podemos dizer que o problema em pauta nos é reimposto pelo próprio avanço dos esquemas matemáticos transcendentais em todas as áreas do pensamento, inclusive do pensamento musical. Mas não propomos, aqui, meramente re-ativar os autores que, antes da revolução digital, investigaram o que há para além dos programas ou esquemas musicais. Da nossa parte, introduzimos a seguinte hipótese: o conceito de diagrama, proposto por Charles S. Peirce como substituto pragmati(ci)sta, incorporado, sensível e nãoalgorítmico, do esquema transcendental kantiano, indica um caminho ainda não investigado, nomeadamente, o conceito de diagrama musical. Assim, para amplificar e dar corpo (musical) ao pensamento que há para além do programado e do programável, atentamos para a dinâmica mediadora dos diagramas visuais, gestuais e sobretudo sónicos, que a história da música (suas tecnologias e suas práticas) nos legou, e que chegam até este trabalho por intermédio de variadas escutas compostas, verbalizadas e anotadas por compositores, teóricos, escritores, artistas, músicos e filósofos.