Summary: | Introdução: Embora não exista evidência de aumento do número de suicídios nos últimos anos, estudos recentes revelam um aumento da ocorrência de patologia mental em Portugal o que se julga poder estar relacionado com a crise económica e social. Sendo que a Rede Médicos Sentinela (RMS) tem vindo a estimar as taxas de incidência de suicídio e suicídio na população portuguesa desde 1990, este trabalho pretende descrever a evolução da incidência das tentativas de suicídio na população portuguesa em 10 anos interpolados entre 1990 e 2014 e caracterizar as tentativas de suicídio ocorridas em 2014. Metodologia: Estudo descritivo da evolução da taxa de incidência de tentativa de suicídio entre 1990 e 2014. A notificação dos casos foi realizada semanalmente, pelos médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) da RMS, durante os anos em estudo em relação aos utentes da sua lista. Para o cálculo das taxas de incidência considerou-se o número de tentativas de suicídio notificados em cada ano em relação à população sob observação efetiva anual na RMS. Ao contrário dos outros anos, entre 2009-2011, as notificações das tentativas de suicídio e suicídio foram realizadas sob o mesmo tema (lesões autoinfligidas). Assim, para estimar o número de tentativa de suicídio subtraiu-se o número de mortes ao total anual de casos. Caracterizaram-se as tentativas de suicídio ocorridas em 2014 de acordo com a idade, sexo e antecedentes pessoais. Resultados: A taxa de incidência de tentativas de suicídio variou entre 22,9/105 (2011) e 71,3/105 (2014). O aumento observado em 2014 teve maior magnitude no sexo feminino (106,9/105 versus 31,5/105). Em relação às tentativas de suicídio ocorridas em 2014, a idade média foi de 46 anos, 83,3% tinha antecedentes de doença mental e 87,5% teve consultas de MGF no ano anterior. 50,0% das tentativas de suicídio ocorreram na primavera; 60,9% dos casos recorreu ao uso de fármacos. Discussão: O aumento das tentativas de suicídio ocorridas em 2014 vai ao encontro do aumento da incidência de depressão descrita noutros estudos. Embora o desenho desta investigação não permita estudar a causalidade deste problema, observamos que o aumento da taxa de incidência de tentativas de suicídio é posterior à imposição das medidas de austeridade, colocando-se a hipótese de ambos os fenómenos poderem estar associados. Os antecedentes de doença mental e de consultas de MGF reforçam o papel do médico de família na identificação e acompanhamento destes doentes.
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