Summary: | Ao longo das eras, o espaço geográfico que actualmente corresponde a Portugal viu-se submetido à influência de várias civilizações. As mais marcantes terão sido, nos séculos que enquadram o início da era cristã, a civilização romana e, nos que emolduram a génese de Portugal, a civilização islâmica. Depois seria a vez de Portugal imprimir, por via dos Descobrimentos, a sua marca na identidade da civilização ocidental. Cada um destes três momentos constituiu um espaço privilegiado para o intercâmbio de bens culturais, entre os quais se contam, naturalmente, os produtos alimentares que, em geral, não mais desapareceram dos hábitos gastronómicos das populações. O património alimentar do Ocidente peninsular aparece, assim, marcado por uma progressiva diversidade gastronómica que sobrevive, incólume, à passagem do tempo. Ao comentar a obra de Dioscórides de Anazarbo, o médico português Amato Lusitano consigna algumas aportações atinentes a esta questão. O presente ensaio propõe-se explorá-la, ilustrando-a com exemplos concretos tomados das entradas finais do Livro II das In Dioscoridis Anazarbei De Medica Materia Libros Quinque Enarrationes Eruditissimae, impressas em 1553, nas quais se guarda até uma referência à novidade dos produtos que então chegavam a Lisboa, capital do reino, trazidos da longínqua Ilha da Madeira.
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