Summary: | O confronto com a perda de um ente significativo pode ser um catalisador para a ocorrência de Crescimento Pós-Traumático (CPT). A Teoria da Vinculação sugere que o modo como o sujeito se adapta à perda e a intensidade das suas reacções perante um luto está intrinsecamente relacionado com o seu padrão de vinculação aos outros. Revela-se assim impreterível avaliar o fenómeno de CPT à luz desta teoria. O objectivo geral do presente estudo consistiu em avaliar o CPT numa amostra de sujeitos universitários que perderam um ente querido, pretendendo-se verificar se os níveis de crescimento são mais elevados em sujeitos que perderam uma/ambas as figuras parentais (Grupo Parental), comparativamente a sujeitos que perderam outros entes queridos (Grupo Não-Parental). Pretendeu-se também avaliar se a qualidade da vinculação prediz a intensidade do CPT. Esta investigação foi ainda desenvolvida atendendo aos seguintes objectivos específicos: a) averiguar se existem diferenças nos índices de CPT quando se considera o «tempo decorrido após a perda»; «causa da morte»; «procura de acompanhamento psicológico após o luto»; «intensidade emocional da perda» e «presença de um luto patológico»; b)averiguar se existem diferenças nos índices de Mudanças Negativas quando se considera a variável de luto «grau de parentesco». A amostra foi constituída por 213 sujeitos universitários e os instrumentos utilizados foram, além de um Questionário Sociodemográfico e do Luto, o Inventário de CPT (Tedeschi & Calhoun, 1996; versão portuguesa adaptada por Resende et al., 2008); Escala de Mudanças Negativas após o Trauma (Costa, 2008); Inventário do Luto Complicado (Prigerson et al., 1995; versão portuguesa adaptada por Delalibera, 2010) e Escala de Vinculação do Adulto (Collins & Read, 1990, versão portuguesa adaptada por Canaverro et al., 2006). Os resultados obtidos apuraram que os sujeitos do Grupo Parental experienciaram concomitantemente maiores níveis de CPT e de mudanças negativas após a perda, comparativamente ao Grupo Não- Parental. Por outro lado, o tempo decorrido após a perda e a intensidade emocional despoletada por esta revelaram-se positivamente correlacionados com os índices de CPT. As variáveis causa de morte inesperada e a procura de acompanhamento psicológico não mostraram estar associadas à experiência de crescimento. No que respeita às variáveis que melhor predizem a experiência de CPT, a segurança na vinculação revelou-se a melhor preditora de níveis mais elevados de crescimento, sendo que foi igualmente provado que um estilo de vinculação insegura prediz níveis mais baixos de crescimento. O trabalho desenvolvido tem o seu mérito contributivo na mudança de uma perspectiva focada exclusivamente na patologia e consequências negativas da perda, rumo a uma abordagem mais salutogénica.
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