Summary: | Aliada à existência humana, a morte tornou-se ao longo da história companheira de reflexão do Homem, torneando os seus pensamentos, percepções, atitudes e comportamentos. É postada como fonte de desesperança humana, que a morte se assume como um dos verdadeiros tabus sociais ao longo dos tempos e esta é uma problemática que se ergue no enorme vazio que medeia o acto de morrer, em que o desconhecido, a dúvida, a incerteza da senda que a morte traduz, se apresentam como uma situação incauta para o ser humano. É imersa na incapacidade de aceitação da morte como parte integrante e legítima da vida humana, na assumpção da vulnerabilidade humana perante a morte, que a sociedade dos dias de hoje procura desvanecer a sua existência, repudiando-a veemente da sua vida, numa ingénua tentativa de evitar o inevitável confronto final, no qual o Homem que desde sempre procurou a eternidade do ser, arcará o guião do eterno derrotado. A perspectiva da morte, que a própria sociedade modificou ao longo dos séculos, retirou-a do estatuto de elemento social caracterizador da espécie humana, tornando-a suja e imoral. O desenvolvimento da cultura social, aliado à evolução da qualidade de vida, modificou a forma de pensar do Homem, bem como as atitudes face à morte. A incompreensão da morte como elemento intrínseco da condição humana mudou a forma de vida do indivíduo, modificou a sua postura social, conduzindo-o ao refúgio da individualidade do ser. Neste contexto social que se apresenta como mutável, subsiste uma sociedade secular vincada por valores e comportamentos singulares, na qual o conceito de morte, retratado como uma especificidade inerente à condição militar, leva à assumpção da finitude do ser como um compromisso de vida para quem a salvaguarda do interesse público prevalece em detrimento da vida pessoal. Conscientes de que o militar como elemento social é compelido para a adopção de novos comportamentos e atitudes, surge esta pesquisa, realizada através de uma abordagem quantitativa e caracterizada por ser um estudo de carácter descritivo essencialmente exploratório, que apresenta as seguintes questões de investigação: - Qual a representação social que os militares da categoria de Sargentos da Guarda Nacional Republicana (GNR) têm da morte? - Quais os factores que condicionam a representação social da morte e a ansiedade face à morte nos militares da categoria de Sargentos da Guarda Nacional Republicana? Neste âmbito e partindo de hipóteses associadas às características sóciodemográficas, à vivência de experiências próximas de morte e às atitudes perante o contexto da eutanásia, procura-se, partindo das crenças, emoções, comportamentos, imagens, atribuições e ansiedade associadas à morte, dar a conhecer as dimensões que organizam as representações da morte, em militares da categoria de Sargentos da Guarda Nacional Republicana. Este estudo é vertido através dos dados recolhidos numa amostra de 116 Sargentos do 32º Curso de Formação de Sargentos, seleccionada através de métodos não probabilísticos (não casual) por intermédio do método de amostragem por conveniência, tendo sido aplicados como instrumentos de recolha de dados, o inquérito por questionário, a escala de dimensões significativas da morte de Oliveira (1995) e a escala de ansiedade face à morte de Conte, Weiner e Plutchic (1982) adaptado por Simões e Neto (1994) e readaptado por Oliveira (1997). Os dados obtidos foram trabalhados por análise estatística com recurso à aplicação informática do pacote estatístico para as ciências sociais, versão 18 para Windows. Face aos resultados obtidos na amostra, podemos verificar que as dimensões significativas que mais estruturam as representações sociais da morte da amostra são: Vida Além da Morte com uma média de 3,20 e a Morte de Outro com uma média de 3,09, apresentando esta amostra uma grande ansiedade face à morte, com uma média de 28,76 e desvio padrão de 8,95.
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