Summary: | O cancro da bexiga (BC) apresenta uma das maiores taxas de recorrência entre os tumoures sólidos e é a segunda causa de morte, relativamente a doenças do trato geniturinário. A introdução de modelos moleculares para um melhor prognóstico e desenvolvimento de terapias dirigidas efetivas, continua a ser um aspeto desafiador devido à significativa heterogeneidade molecular inter e intratumoral. No entanto, a CD44, uma proteína de membrana fortemente O-glicosilada e envolvida nas interações célula-célula, adesão celular e migração, parece desempenhar um papel crítico na progressão e disseminação do cancro da bexiga, abrindo portas para potenciais terapêuticas dirigidas. No entanto, o gene que codifica esta proteína geralmente sofre splicing alterativo, o que resulta em diversas isoformas funcionalmente distintas, de pesos moleculares variáveis e com vários locais de glicosilação. No entanto, a natureza dessas isoformas no contexto do cancro da bexiga ainda não está bem esclarecida. Com base nestas ideias, este trabalho tem como objetivo determinar as isoformas da CD44 mais clinicamente relevantes e com potencial de direcionar para clones mais agressivos. É dado particular ênfase à identificação de O-glicanos associados ao cancro, que visam aumentar o entendimento molecular para o desenho de ligandos altamente específicos. Consequentemente observou-se que a CD44 está aumentada na urina de doentes com cancro de bexiga, comparativamente com urinas controlo de indivíduos saudáveis. Esse efeito é mais pronunciado em estadios avançados da doença, particularmente após a invasão muscular, o mesmo se verifica com expressão da CD44 nos tumores de bexiga. Além disso, uma abordagem direcionada por RT-PCR demonstrou que o modelo celular de tumores superficiais de cancro da bexiga, a linha celular 5637 e os tumores de bexiga não invasivos sobre-expressam isoformas da CD44 de alto peso molecular (CD44v3-10high, CD44v8-10high, CD44slow). Por outro lado, as linhas celulares T24 e HT1376 derivadas de tumores musculo-invasivos e estes mesmos tumores sobre-expressam predominantemente CD44s, uma isoforma de menor peso molecular (CD44v3-10low, CD44v8-10low, CD44shigh). Além disso, os clones quimiorresistentes das células T24, tratadas com cisplatina, também sobre-expressam CD44s. Da mesma forma, os tumores invasores apresentaram um fenótipo semelhante, apoiando a associação da CD44 com fenótipos mais agressivos. Os estudos de glicómica e glicoproteómica envolvendo a linha celular T24 demonstraram ainda a expressão de CD44 glicosilado com antigénios sialil-Tn (CD44-STn) e di-sialil-T (dST), anteriormente associados a um pior prognóstico. Em paralelo, ensaios de imuno-histoquímica e de ligação de proximidade in situ confirmaram a existência de CD44-STn e CD44-dST em tumores musculo-invasivos. Em conclusão, CD44s, possivelmente modificada com STn e dST, tem o potencial de direcionar selectivamente para células mais agressivas de tumores de bexiga e clones quimiorresistentes, estabelecendo assim as bases moleculares para o desenho de ligandos. Estudos futuros devem-se concentrar em avaliar o impacto funcional da remodelação da CD44 para isoformas de menor peso molecular, acompanhando a transição de tumores superficiais para invasores.
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