Resumo: | A abundância informativa, resultante tanto da atividade dos jornalistas como dos públicos, provocou, por um lado, a aproximação entre produtores e consumidores, e, por outro, a irremediável porosidade do campo do jornalismo. O cenário no qual as audiências emergem no palco da produção noticiosa é, pois, de grande indefinição. O jornalismo televisivo, tradicionalmente dependente da imagem e cada vez mais dos fenómenos de popularidade nas redes sociais digitais, abre novas portas à tão aguardada conversação entre os profissionais da atividade e os seus públicos, por meio da construção crescentemente partilhada da realidade. Para atestar este contexto de cocriação emergente no jornalismo televisivo, a presente investigação desenvolveu-se em contexto empresarial, numa imersão de longo prazo (três anos) na redação de informação da TVI. Os dados empíricos resultantes da observação etnográfica ‒ principal metodologia aplicada ‒ asseguraram as bases para a caracterização de um jornalismo mais integrador, das quais se destacam: o aumento notório da utilização de conteúdos amadores nos alinhamentos noticiosos formais, a abertura da redação tradicional de televisão ‒ offline ‒ aos contributos que o contexto online permite e a confirmação da imbricação crescente entre jornalistas e públicos na construção da realidade. Para que esta construção conjunta seja integradora ela deve, como enfatizaremos ao longo do trabalho, ter em conta a importância crescente do papel do jornalismo profissional enquanto autenticador e institucionalizador da informação noticiosa. Só assim se encontrará o sentido de verdade, porque assente no imperativo da credibilidade. Assim, se a estética e a natureza amadoras dos conteúdos são cada vez mais aceites no campo jornalístico, elas só ganham dimensão noticiosa quando ‒ e porque ‒ certificadas e verificadas por um profissional obrigado formalmente a tais funções. Estas são as linhas matriciais do presente estudo, cujo significativo pendor empírico teve o intuito de encontrar respostas às várias e importantes questões que, continuadamente ‒ hoje mais do que outrora ‒, assaltam os profissionais do jornalismo e os seus públicos, ambos crescentemente ativos num palco aberto à recolha e à produção informativas ou à participação por meio da autocomunicação de massa.
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