Resumo: | Azamor foi a última das grandes conquistas portuguesas no Norte de África, quase um século após a tomada de Ceuta. O ano de 1513 marcaria o início da apropriação da herança islâmica da cidade e o desenvolvimento de um dos casos mais interessantes da presença lusitana na costa magrebina. A pertinência de Azamor advém do facto de ser a única cidade árabe conquistada onde espaço militar e civil, ou seja, castelo e vila, se identificaram e coincidiram espacialmente. Esta comunicação visa uma actualização do conhecimento desta realidade tendo em consideração recentes trabalhos de levantamento arquitectónico e campanha arqueológica. Não foi uma novidade conceptual o procedimento de atalho que reduziu a Azamor portuguesa a cerca de um terço da sua área preexistente. Importa, porém, aferir rigorosamente as proposições inovadoras da sua nova arquitectura militar. Contendo uma vila no interior do castelo português, urge compreender processos de implantação urbana e arruação que concorrem para ideia de uma vila-nova traçada de raiz. Neste sentido, o estabelecimento de pólos administrativos ou comerciais jogou um papel fundamental na dinâmica da vila portuguesa. O conhecimento e estudo das diferentes dimensões do castelo-vila de Azamor poderão constituir uma peça chave na evolução para a modernidade, operada no Magrebe, dada a proximidade com Mazagão, também ela uma vila-fortaleza mas de matriz fundacional. O presente texto insere-se no projecto «Portugal e o Sul de Marrocos: contactos e confrontos (séculos XV a XVIII)», das universidades portuguesas a que pertencem os signatários, apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia entre 2007 e 2011 (PTDC/HAH/71027/2006) e de que é responsável Maria Augusta Lima Cruz. Resulta também da missão arqueológica e de estudo arquitectónico sobre o património luso-marroquino na região Doukkala-Abda, estabelecida em 2008 por protocolo entre a Direction du Patrimoine Culturel de Marrocos e as mesmas duas universidades, sendo dirigido por três dos autores deste estudo. O trabalho interdisciplinar destes dois projectos tem-se centrado num dos núcleos urbanos conquistados pelos portugueses no Norte de África, a cidade Azamor (Azemmour), dominada entre 1513 e 1542. O material recolhido e processado tem possibilitado lançar de hipóteses interpretativas sobre a fisionomia da urbe durante o período português (CORREIA e LOPES, 2011: 199-212), entre outros aspectos da sua história. Permitiu também estudar as épocas anterior e posterior ao domínio português, uma temática suscitada pelo desejo de compreender o contexto histórico daquele efémero domínio europeu e pelos próprios resultados das intervenções arqueo-lógicas (KARRA e TEIXEIRA, 2011: 177-90; TEIXEIRA, KARRA e CARVALHO, no prelo). Neste texto centramos a nossa atenção nas fortificações erguidas pelos portugueses em Azamor, articulando-as necessariamente com os dispositivos defensivos preexistentes e atentando às modificações que lhes foram introduzidas posteriormente. Beneficiamos do trabalho académico desenvolvido por um de nós sobre esta temática (LOPES, 2009).
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