Discrepâncias nos relatos das mães e crianças sobre as experiências de maus-tratos físicos

Os maus-tratos físicos a crianças praticados no meio familiar têm vindo a ser associados a trajetórias desenvolvimentais desadaptativas em diferentes domínios de funcionamento psicológico. Na avaliação deste fenómeno, as medidas de autorrelato aos pais/cuidadores primários e à própria criança são o...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Costa, Mariana Sá (author)
Format: masterThesis
Language:por
Published: 2022
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10437/13295
Country:Portugal
Oai:oai:recil.ensinolusofona.pt:10437/13295
Description
Summary:Os maus-tratos físicos a crianças praticados no meio familiar têm vindo a ser associados a trajetórias desenvolvimentais desadaptativas em diferentes domínios de funcionamento psicológico. Na avaliação deste fenómeno, as medidas de autorrelato aos pais/cuidadores primários e à própria criança são o método mais utilizado. No entanto, a investigação tem vindo a demonstrar correlações baixas a moderadas entre os autorrelatos dos informantes, que são justificadas por erros metodológicos ou limitações de medida dos instrumentos. Mais recentemente, as discrepâncias entre informantes são concetualizadas como reflexo das variações contextuais do comportamento ou variações nas perspetivas dos informantes sobre o comportamento. O presente estudo teve três objetivos. O primeiro foi identificar padrões de discrepância entre mães e crianças nos seus relatos de experiência de maus-tratos físicos. O segundo objetivo foi testar diferenças entre as tipologias identificadas ao nível dos sintomas de internalização e externalização das crianças. O terceiro e último objetivo foi examinar diferenças entre as tipologias ao nível de variáveis sociodemográficas, nível de violência nas relações de intimidade (VRI), sintomas depressivos e PTSD maternos. A amostra foi constituída por 162 mães de nacionalidade portuguesa, com idades compreendidas entre os 21 e os 58 anos, e os seus filhos, com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos. Os participantes foram recrutados em Serviços de Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) e casas abrigo. Foram identificadas três tipologias nos relatos de maus-tratos físicos: duas tipologias concordantes (a mãe e a criança relatam elevado maltrato físico e mãe e criança relatam baixo maltrato físico) e uma tipologia discrepante (mãe relata baixo maltrato físico e criança relata elevado maltrato físico). Encontrou-se, também, que os sintomas de externalização e internalização da criança são mais evidentes nas tipologias onde a criança relata elevados níveis de maus-tratos físicos. Ao nível da psicopatologia materna, a depressão e a PTSD materna são mais significativas na tipologia discrepante, em que a mãe relata baixo maltrato físico e a criança relata elevado maltrato físico. São discutidas as implicações clínicas dos resultados.