Resumo: | A análise dos casos registados na base de dados nacional da vigilância epidemiológica da infeção por VIH e SIDA e notificados até 30 de junho de 2016, revela que durante o ano 2015 foram diagnosticados em Portugal 990 novos casos de infeção por VIH, correspondendo a uma taxa de 9,6 novos casos por 105 habitantes, não ajustada para o atraso da notificação. A maioria dos diagnósticos (99,9%) ocorreu em indivíduos com 15 ou mais anos de idade e foram diagnosticados 2,7 casos em homens por cada caso identificado em mulheres. A mediana das idades à data do diagnóstico foi de 39,0 anos e 25,5% dos novos casos foram diagnosticados em indivíduos com idades ≥50 anos. Contudo, os casos em homens que têm relações sexuais com homens (HSH) apresentaram uma idade mediana mais baixa (31,0 anos) e correspondem a 69,7% dos casos diagnosticados em indivíduos de idade inferior a 30 anos. À data da notificação a residência (NUTSII) de 49,3% dos indivíduos situava-se na Área Metropolitana de Lisboa (17,3 novos casos/105 habitantes) e, embora os novos casos com residência na região Norte (19,9%) correspondam à segunda maior proporção, é a região do Algarve que apresenta a segunda taxa mais elevada de diagnósticos (12,4 novos casos/105 habitantes). A maioria dos novos casos ocorreu em indivíduos naturais de Portugal (72,0%) e 96,4% das novas infeções eram causadas por VIH do tipo 1. Manteve-se o predomínio de casos de transmissão heterossexual verificado nos anos anteriores, no entanto, os casos em HSH corresponderam a 40,5% dos casos em que há infor mação disponível sobre o modo de transmissão e constituíram, pela primeira vez desde 1984, a maioria dos novos diagnósticos em homens (53,8%). As características clínicas dos novos casos de infeção indicam que a maioria era assintomática (70,6%) e que em 15,0% dos casos houve um diagnóstico concomitante de SIDA. De acordo com os valores de CD4 da primeira avaliação clínica, disponíveis em 79,3% dos casos, 49,0% apresentaram-se tardiamente (CD4<350 cél/mm3) e 30,0% com doença avançada (CD4<200 cél/mm3). Durante o ano 2015 foram também diagnosticados 238 novos casos de SIDA em indivíduos com idade ≥15 anos (2,3 casos/105 habitantes). A idade mediana nos casos de SIDA foi de 45,0 anos, a maioria dos novos casos ocorreu em heterossexuais, a pneumonia por Pneumocystis foi a doença definidora de SIDA mais frequentemente referida no total dos casos e nos casos de transmissão sexual e a tuberculose pulmonar foi diagnosticada mais vezes em toxicodependentes. Foram notificados ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge 192 óbitos ocorridos em 2015, em pessoas com infeção por VIH. A maioria (75,5%) registou-se em homens, a idade mediana à data do óbito foi de 52,0 anos, o maior número de mortes ocorreu em casos de transmissão heterossexual (51,0%) e foi também neste grupo que se verificou a maior proporção de óbitos nos cinco anos subsequentes ao diagnóstico de infeção por VIH (34,7%). Encontram-se notificados em Portugal 54297 casos de infeção por VIH, dos quais 21177 em estadio SIDA, com diagnóstico entre 1983 e 2015 e a análise das tendências temporais revela que as taxas de novos diagnósticos de infeção por VIH e de SIDA decrescem progressivamente desde 2008. Entre 2005 e 2014 observou-se uma redução de 50,0% no número de novos casos de infeção por VIH e de 69,3% em novos casos de SIDA. Ainda no mesmo período, verificou-se uma redução de 66,6% no número de novos casos que se apresentaram em estadio SIDA à data do diagnóstico de infeção. Não obstante esta tendência decrescente, Portugal tem apresentado as mais elevadas taxas de novos casos de infeção VIH e SIDA da Europa ocidental. Se é causa de preocupação o número de novos diagnósticos de infeção por VIH em HSH em Portugal, dos quais uma elevada proporção ocorre em jovens e muitos correspondem a infeções adquiridas recentemente, evidenciando a necessidade de serem adotadas estratégias mais eficazes e inovadoras de difusão de informação relacionada com a prevenção direcionadas a este grupo, o número de diagnósticos tardios, particularmente nos heterossexuais, constitui também motivo de apreensão e motiva ao empenho de todos os profissionais de saúde na melhoria das estratégias para aumentar o diagnóstico precoce e reduzir a fração não diagnosticada. Ao longo dos 30 anos de existência do sistema de vigilância epidemiológica para a infeção por VIH e SIDA no país tra balhou-se no sentido de alargar, diversificar e melhorar a qualidade da informação recolhida e difundida. Não obstante, este processo de melhoria deve ser contínuo e carece do empenho de todos os intervenientes.
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