Summary: | O tecido conjuntivo parece estar envolvido na génese de diversas condições patológicas. O aumento da rigidez do tecido conjuntivo, resultante da fibrose, pode constituir um factor importante no mecanismo patogénico da dor crónica resistente a fármacos (Langevin & Sherman, 2007). Por outro lado, os nucleótidos extracelulares parecem estar envolvidos na fisiopatologia da dor crónica (Burnstock, 2001). Assim, este estudo teve como objectivo averiguar o efeito dos nucleótidos de adenina e uridina na proliferação e síntese de colagénio tipo I de fibroblastos do tecido subcutâneo de rato em cultura. Os resultados obtidos mostram que a incubação com UTP (0.3-100 M, n=5) induz um aumento da proliferação e da produção de colagénio tipo I, o qual é dependente da concentração. Contrariamente, o agonista selectivo dos receptores P2Y2, o MRS 2768 (10 μM, n=3), não teve qualquer efeito no que se refere à proliferação, mas diminuiu significativamente (P<0.05) a síntese de colagénio tipo I. Uma vez que o aumento da produção de colagénio induzida pelo UTP (100 μM) foi proporcional ao aumento do número de células (proliferação celular),podemos especular que este aumento se deve ao aumento do número de células per si do que a uma maior actividade sintética de cada célula. Assim, ao normalizar os valores do colagénio tipo I em relação aos valores obtidos do MTT para os mesmos momentos/dias, deixamos de observar diferenças estatisticamente significativas entre o controlo e as células expostas ao UTP. Uma vez que os receptores P2Y2 não parecem estar envolvidos nesta resposta do UTP (100 μM), esta poderá estar a ser mediada pela activação dos receptores P2Y4 e/ou P2Y6. Considerando que o RB-2 (10 μM, n=5), um antagonista não selectivo que actua preferencialmente no subtipo de receptores P2Y4, não foi capaz de modificar a resposta induzida pelo UTP (100 μM), os receptores P2Y4 parecem também não estar envolvidos. Por outro lado, o MRS 2578 (100 nM), um antagonista selectivo dos receptores P2Y6, atenuou de forma significativa o aumento induzido pelo UTP (100 μM). A corroborar os nossos resultados, uma análise imunocitoquímica mostrou uma imunorreactividade positiva contra os receptores P2Y2 e P2Y6, mostrando um padrão de marcação citoplasmático/membranar, o qual é típico para este tipo de receptores, ao contrário do padrão nuclear exibido pelo anticorpo contra os receptores P2Y4. Relativamente ao envolvimento dos receptores sensíveis ao ADP, os resultados obtidos mostraram que o ADPβS (10-100 μM, n=3-6), um análogo estável do ADP, não parece induzir efeitos significativamente diferentes (P>0.05) na proliferação celular. Contudo, a sua incubação continuada aumentou a produção de colagénio tipo I de forma dependente da concentração (P<0.05). De modo a identificar os receptores purinérgicos envolvidos neste efeito, testamos o ADPβS (100 μM) na presença do MRS 2179 (0.3 μM), do AR-C 66096 (0.1 μM), e do MRS 2211 (10 μM), os quais antagonizam selectivamente os receptores P2Y1, P2Y12 e P2Y13, respectivamente. O efeito facilitatório induzido pelo ADPβS (100 μM) foi atenuado de forma significativa na presença do antagonista dos receptores P2Y1, o MRS 2179 (0.3 μM, n=3), sem ser afectado pelo antagonista dos receptores P2Y12, o AR- C 66096 (0.1 μM, n=3). Pelo contrário, o MRS 2211 (10 μM, n=2) potenciou o aumento da produção de colagénio induzida pelo ADPβS (100 μM), indicando assim que a síntese de colagénio tipo I induzida pelo receptor P2Y1 pode estar a ser parcialmente influenciada por uma activação síncrona do receptor inibitório P2Y13. Por último, uma análise por imunocitoquímica mostrou que estas células apresentam imunorreactividade positiva para os receptores P2Y1 e P2Y13, exibindo um padrão citoplasmático/membranar, contrariamente ao padrão nuclear dos receptores ostentado pelo anticorpo contra os receptores P2Y12. Concluindo, a remodelação da fáscia superficial induzida pelos fibroblastos parece ser regulada por um balanço entre a activação dos receptores P2Y2 e P2Y6, assim como dos receptores P2Y13 e P2Y1. Clarificar as vias que conduzem ao processo de fibrose pode representar uma oportunidade para esclarecer o seu envolvimento na patogénese da dor crónica musculo-esquelética, bem como ser útil no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.
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