Summary: | RESUMO: Introdução - A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa prevalente com grande impacto social. Trata‐se da causa mais frequente de demência acima dos 65 anos e os sintomas visuais são relatados em estádios iniciais da doença, muito antes do diagnóstico estar claramente estabelecido. As alterações visuais descritas incluem dificuldades na leitura, em encontrar objetos, perceção de profundidade e do movimento, reconhecimento de cores e diminuição da sensibilidade ao contraste espacial. A disfunção visual da doença de Alzheimer foi atribuída durante muitos anos apenas às lesões no córtex visual primário e áreas corticais superiores. No entanto, evidências crescentes baseadas em estudos com modelos animais da doença de Alzheimer e em seres humanos demonstraram que a neurodegenerescência pré‐cortical pode desempenhar um importante papel e as alterações visuais observadas nesta doença podem ser causadas por lesões que ocorrem a qualquer nível das vias óticas. As evidências anatomopatológicas demonstraram envolvimento das células ganglionares da retina, dos axónios do nervo ótico, da microcirculação da retina e da coroideia nos doentes com Alzheimer. Estes achados anatomopatológicos foram corroborados pela avaliação in vivo da retina e da coroideia, bem como da sua vascularização. A tomografia de coerência ótica tem mostrado grande utilidade na avaliação destas alterações podendo tornar‐se uma ferramenta útil na deteção precoce e, possivelmente, no acompanhamento da progressão da doença. O objetivo principal deste estudo consistiu em identificar alterações estruturais das diferentes camadas da retina peripapilar e macular e da coroideia dos doentes com doença de Alzheimer através de Spectral Domain – Optical Coherence Tomography. Métodos - Estudo observacional transversal realizado no Centro Hospitalar de Lisboa Central, entre Outubro de 2014 e Abril de 2016, que incluiu 50 olhos de 50 doentes com doença de Alzheimer e 152 olhos de 152 indivíduos sem a referida doença. Todos os indivíduos foram submetidos a observação neurológica e oftalmológica completa. Os exames tomográficos foram obtidos utilizando o Spectralis Spectral Domain Optical Coherence Tomography, programas Retinal Nerve Fiber Layer Single Exam Report OU with FoDi™ para a análise peripapilar e Fast Macular Thickness para a análise retiniana com segmentação automática para obtenção dos valores da espessura de cada camada retiniana, assim como da retina total. Foi também utilizado o software Enhanced Depth Imaging para a obtenção de imagens da coroideia. A sua medição foi realizada de forma manual em 13 localizações: na zona subfoveal e em intervalos de 500 μm até 1500 μm nasal, temporal, superior e inferior à fóvea. Foi ainda acrescentado um grupo de 50 olhos de 50 indivíduos com idade superior a 78 anos, sem Doença de Alzheimer para medição da espessura da coroideia. Para a análise dos dados foram utilizados modelos de regressão linear, adotando‐se o nível de significância α=0,05. Resultados - De salientar, a ausência de diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos estudados relativamente ao género, pressão intraocular, comprimento axial, equivalente esférico e terapêutica com beta‐bloqueantes/diuréticos. Nos exames tomográficos registámos diferenças estatisticamente significativas entre o grupo doença de Alzheimer e o grupo controlo. Relativamente à camada de fibras nervosas peripapilar, a média global e o quadrante temporal superior registaram os valores com as diferenças de maior significado estatístico. Na retina macular total e nas diferentes camadas retinianas, as principais diferenças foram observadas nos setores superiores da retina total, nos setores periféricos da camada de células ganglionares (superior, temporal e nasal) e nos setores superiores da camada plexiforme interna. Relativamente à coroideia, obtivemos diferenças estatisticamente significativas nas 13 localizações quando comparámos os dois grupos (doença de Alzheimer e o grupo controlo). Para testar a robustez destes resultados comparámos o grupo doença de Alzheimer com indivíduos muito idosos e ainda obtivemos diminuições de espessura no grupo com doença mais pronunciadas na região subfoveal e em 2 localizações temporais à fóvea (500 e 1000 μm). Conclusões - Na tomografia por coerência ótica, a espessura média da camada de fibras nervosas peripapilar encontra‐se diminuída de forma significativa nos doentes com Alzheimer, sendo sobretudo expressiva no quadrante temporal superior. Nos modelos de regressão multivariável, após correção de Bonferroni, também a espessura total da retina estava diminuída nos setores superiores. As camadas retinianas mais atingidas na doença de Alzheimer incluem a camada de células ganglionares e os seus setores periféricos superior, temporal e nasal localizados entre os 3 e os 6 mm centrados à fóvea e os sectores superiores pericentral e periférico da camada plexiforme interna. A espessura da coroideia encontra‐se estatisticamente reduzida na área macular dos doentes com Alzheimer. Confirmou‐se a relação inversa entre a espessura da coroideia e a idade e identificaram‐se três localizações da coroideia, subfoveal e temporais à fóvea, com espessura diminuída de forma muito pronunciada, mesmo quando comparadas com indivíduos cerca de 10 anos mais idosos.
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