Summary: | O desenvolvimento de estudos sobre o quotidiano escolar nunca deixou de ser feito. Porém, frequentemente, esses estudos “construíram” a ordem escolar como um mundo autosuficiente, em narrativas autotélicas, incapazes de desnovelar e deslindar os múltiplos fios que fazem com que, no quotidiano, se presentifiquem de forma singular e irrepetível dispositivos e processos de poder que se entrelaçam originariamente na dominação social. Porém, o estudo do quotidiano nos contextos da acção educativa é uma actividade onde estão sempre presentes dois componentes imbricados num só texto: a narrativa plausível da realidade “caótica”, fragmentária, envolta em halos de emoção, divergente, centrífuga e plural, por um lado, e a decifração dos nexos de sentido que permitam articular essa realidade singular com a totalidade social (ela própria dilaceradamente cindida e heteróclita), de modo a permitir configurar-se numa ordem de sentido intersubjectivamente comunicável.Esta tarefa de pesquisa obriga a um esforço epistemológico que se exprime numa metodologia da reflexividade (Bourdieu, 2002), não prescinde da articulação de vários contributos teóricos que se sedimentaram e mutuamente contaminaram na interpretação dos quotidianos dos contextos de acção educativa e exige uma arte da narrativa suficientemente plástica para reconstituir a densidade dos mundos de vida nas escolas.
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