Summary: | Em 18 de janeiro de 1934 eclodiu em várias localidades de Portugal, nomeadamente na então vila da Marinha Grande, hoje cidade com cerca de 40 mil habitantes, um movimento insurrecional que pretendia derrubar o Estado Novo e, dessa forma, abolir a legislação que pretendia condicionar o sindicalismo livre. A ação revolucionária do operariado português, intentada fundamentalmente por anarco-sindicalistas e comunistas, unidos numa Frente Única, foi «esmagada» por Salazar, sem grandes dificuldades. O homem que liderou Portugal com «mão-de-ferro» até 1968 aproveitou a oportunidade para usar habilmente a imprensa escrita e, assim, passar ao povo a mensagem que mais lhe interessava, ou seja, permitiu que os jornais de referência à época publicassem as ações que contribuíram para desestabilizar a ordem pública, designadamente atentados bombistas, cortes de linhas férreas e interrupção de energia elétrica. Se por um lado o novo regime autoritário utilizou engenhosamente a comunicação, em contraponto esta foi uma das falhas dos revoltosos que conceberam e promoveram a ação insurrecional, uma das mais duras derrotas do movimento operário português. Oito décadas após o 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande, continua muito por esclarecer. Esta tese visa observar as representações do movimento insurrecional na imprensa regional e local do distrito de Leiria (O Mensageiro, A Voz do Domingo, Região de Leiria, Jornal da Marinha Grande, O Correio, Jornal da Marinha Grande e Jornal de Leiria - 1934- 1984), verificando-se de que forma o conteúdo político da ação foi plasmado no papel, desde logo entre a ditadura e a democracia, presumindo-se que existem diferenças significativas, devido à presença permanente do censor durante os anos em que perdurou em Portugal o Estado Novo. Há ainda a ter em conta a dimensão como a efeméride foi comemorada e as apropriações que foram sendo feitas ao longo dos anos, designadamente pelo Partido Comunista Português, ou melhor, pelos seus dirigentes, bem como as controvérsias que daí resultaram.
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