Resumo: | Sonhando com a universalização do conhecimento, e também com a universalização da comunidade científica, o imaginário universitário foi um imaginário moderno desde a sua origem medieval. Mas com o advento de um tempo em que só parece justificável socialmente aquilo que é instrumental, e que, numa palavra, serve os desígnios de uma razão pragmática, todo o ensino superior passou a servir o mercado como único senhor e obedece às exigências da competitividade, como se a razão liberal fosse hoje o verdadeiro tribunal que julga da qualidade académica. Acabando por se descentrar e por passar a funcionar sobre eixos de sentido que não são os seus, a Universidade faz então da esquizofrenia o seu estado permanente, pelo que o ensino se atola no pedagogismo, a investigação deposita no mercado e na competição todas as esperanças de redenção e o serviço à comunidade é muitas vezes um mero pragmatismo, uma pressa indecorosa, um fazer sua a convicção generalizada de que temos direito a tudo e de que tudo tem um preço. A golpes de melancolia, afunda-se, pois, o pensamento, e, com ele, afunda-se o próprio ideal académico. A meu ver, no entanto, cabe à Universidade, como finalidade última, a salvaguarda das possibilidades da (a)ventura do pensamento, ou seja, cabe-lhe fazer do ensino e da ciência uma ideia, sem a qual o presente é uma pura forma de onde se ausentou toda a potência.
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