Resumo: | Neste artigo, analisa-se a figura do sultão Schah-Baham, personagem de duas narrativas de perfume oriental da autoria do francês Claude Crébillon (1707-1777), Le Sopha e Ah, quel conte!. Apresentado como neto do par nuclear das Mil e Uma Noites, Schah-Baham caracteriza-se pela idiotice. O seu interesse pelos contos que escuta resume-se aos pormenores eróticos e vulgares, revelando-se um auditor ingénuo, apressado, mas tirano. Contudo, não se coíbe de tecer comentários reveladores do seu medíocre entendimento dos sentidos profundos das histórias narradas, mostrando-se fascinado pelos aspetos superficiais dos contos. Os dislates do sultão servem, porém, de alerta ao leitor relativamente a pistas interpretativas falsas, quer no que diz respeito à desvalorização literária dos contos orientais e do género romanesco, quer a uma crítica psicológica, social e política de alto risco, uma vez que o idiota aqui representado constitui uma figuração do próprio soberano absolutista, o rei Luís XV, e da corte francesa.
|