Summary: | Vários autores em ciências humanas e sociais têm definido resiliência como um atributo individual que é característico daqueles que são capazes de “prosperar na dificuldade” e de “transformar crises em oportunidades”. Todavia, defendemos esta versão do conceito de resiliência – que designamos como “heroica” - enferma de problemas insuperáveis de etnocentrismo, normativismo e individualismo. Para a contrariar esta versão, apresentamos um conceito crítico de resiliência. A resiliência será um processo aberto de reconfiguração dos modos de vida desencadeado por choques sistémicos – ou seja, alterações abruptas das condições de reprodução social, como crises económicas e políticas, desastres naturais ou guerras. Os processos de resiliência têm duas dimensões centrais: a mobilização de recursos sociais e naturais; e a transferência de riscos no tempo, espaço e através do tecido social. Ambas estas dimensões são necessariamente moldadas por processos de estruturação social, como a classe social, a raça, o género ou o território. Os processos de resiliência contribuem para a reprodução e transformação das estruturas sociais e do ambiente. Por um lado, os processos de resiliência fazem uso de reservas finitas de recursos, que muitas vezes não são de fácil substituição e cuja exploração pode implicar pesados custos pessoais, sociais e ambientais. Por outro lado, podem uso de relações de poder e de mecanismos de desigualdade social existentes, contribuindo assim para o seu reforço.
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