Summary: | Neste artigo analisa-se o processo de aculturação de um desertor português à cultura africana, delineado no romance Choriro (2009), do escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa. A história desenrola-se na segunda metade do século XIX no Vale do Zambeze no Centro de Moçambique. Concretamente demonstra-se como a aculturação (“cafrealização”) da personagem é lograda, quais as resistências e medos que provoca nos africanos, e qual a sua consequência no que diz respeito à coesão e identidade social dos achicunda (ex-escravos armados dos prazos). Estas questões discutem-se em estreita relação com as práticas sociais da época, esboçadas nos trabalhos historiográficos de Allen e Barbara Isaacman. Procura-se ainda confrontar a aculturação da personagem com os teoremas do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, e avaliar, a partir de ai, a sua importância para a construção da memória cultural e identidade nacional.
|