Summary: | O presente ensaio tenta mostrar como o dualismo anticósmico, característico da maioria dos sistemas gnósticos da Antiguidade, deixou marcas traumáticas até aos nossos dias, nas relações do ser humano com o cosmo e a natureza. Ao contrapor radicalmente Espírito e Matéria, Deus e o Demiurgo, o mundo divino sumamente perfeito e «estrangeiro», a este mundo material e mau, terra «estranha» e «exílio forçado» em que o gnóstico se sente «fora de casa»; ao propor uma metafísica antitética baseada na sola gnosis, não podemos deixar de ver no gnosticismo antigo as premissas remotas que enfermaram a nossa cultura, marcada pelo paradigma conflitual na relação do homem com o mundo e suas criaturas, e, assim contribuíram para a degradação da relação do habitante com o habitat.
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