Summary: | Tem-se assistido a um uso potencialmente abusivo de produtos fitofarmacêuticos, com consequentes efeitos ambientais. Assim, o desenvolvimento de produtos mais eficazes e amigos do ambiente é um dos grandes desafios da atualidade. Neste contexto, este trabalho teve como principais objetivos: (i) avaliar a toxicidade dos formulantes ou adjuvantes utilizados nas formulações dos produtos comerciais, utilizando um herbicida modelo (Winner Top®), de forma a verificar se a designação destes ingredientes como “inertes” é realmente cabível; (ii) desenvolver uma nova metodologia para a formulação dos produtos comerciais visando a manipulação do rácio dos seus constituintes, mantendo a eficácia contra as espécies alvo e exercendo, ao mesmo tempo, menor toxicidade sobre organismos não-alvo. Os ingredientes ativos do Winner Top® (nicosulfurão e terbutilazina) foram testados individualmente e em mistura, considerando o rácio usado na formulação comercial e rácios alternativos. A formulação comercial foi também testada para análise da contribuição dos formulantes para a toxicidade do herbicida. Duas espécies de algas (Raphidocelis subcapitata e Chlorella vulgaris) e duas espécies de macrófitas (Lemna minor and Lemna gibba) foram selecionadas como organismos não-alvo para estes testes, que avaliaram os efeitos dos tóxicos no seu crescimento. Foi também realizado um teste de vigor vegetativo com um organismo alvo, a beldroega (Portulaca oleracea), para se testar a eficácia de formulações alternativas à do composto comercial. Estas formulações foram estabelecidas tendo em conta as concentrações de cada ingrediente que não exerciam efeitos intoleráveis em Lemna minor. Os testes de toxicidade individual revelaram que a terbutilazina foi o principal inibidor de crescimento para as microalgas e o nicosulfurão para as macrófitas. Por outro lado, a mistura dos ingredientes ativos no mesmo rácio da formulação comercial foi aparentemente mais tóxica do que a formulação comercial. Logo, os formulantes do Winner Top® não serão inertes. Por outro lado, o teste de toxicidade de misturas sinalizou que a combinação dos ingredientes ativos tem uma ação antagonista, dependente do nível de efeito, na inibição do crescimento do organismo não-alvo. Estas evidências reforçam as recomendações que têm vindo a ser feitas acerca da necessidade de considerar as formulações, e não os seus componentes isoladamente, na análise de risco prévia à autorização de comercialização de pesticidas. A eficácia, contra a espécie alvo, de formulações alternativas seleccionadas foi equivalente ou em alguns casos superior à da formulação usada no composto comercial, tendo-se verificado que um dos ingredientes ativos não adiciona potencial letal relevante à formulação. Estes resultados permitem sugerir que a manipulação racional do rácio entre os constituintes das formulações comerciais, tendo por base os efeitos ambientais esperados, pode ser uma alternativa para as indústrias de agroquímicos que pretendam desenvolver formulações mais amigas do ambiente. É importante notar ainda que, considerando o exemplo estudado, esta modificação do modus operandi no desenvolvimento das formulações não implicaria perda de eficácia do produto final.
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