Summary: | Este trabalho debruçou-se sobre obra do pintor lisboeta Diogo Teixeira (+/-1540- 1612), considerado um dos mais relevantes representantes do maneirismo português da segunda metade do século XVI. Da sua numerosa produção, foram selecionadas dezasseis pinturas, com autoria comprovada na maioria dos casos, ou com características estéticas e documentação que, indiretamente, as incluem no seu trajeto laboral. As pinturas estudadas inserem-se em quatro núcleos, de acordo com a sua proveniência – Misericórdia de Alcochete, Misericórdia do Porto, Mosteiro de Arouca e igreja do Hospital de Jesus Cristo em Santarém. Apesar do principal objetivo deste trabalho ser a caracterização das opções técnicas e materiais do pintor, a investigação realizada contribuiu igualmente para o conhecimento do percurso histórico das pinturas estudadas, assim como do seu estado de conservação. O desenvolvimento deste estudo foi possível através da utilização de diversos métodos de exame, numa primeira fase, recorrendo a exames não invasivos, nomeadamente o registo fotográfico sob luz visível, UV e IV, reflectografia de IV, radiografia, assim como a inspeção visual das obras, processo decorrido no seu local de exposição. Posteriormente, com o intuito de se identificarem os materiais constituintes das pinturas, procedeu-se à realização de diversas análises através de métodos não invasivos, como a espectrometria de fluorescência de raios-X por dispersão de energia (EDXRF), e métodos de análise de amostras, como a microscopia eletrónica de varrimento acoplada à espectrometria de raios X por dispersão de energia (SEM-EDX) e a micro-espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (μ-FTIR). Os resultados obtidos foram comparados com a documentação técnica da época e com estudos nacionais e internacionais sobre pintura do século XVI e, pontualmente, do século anterior, de forma a contextualizar a pintura de Diogo Teixeira. As obras analisadas incluem suportes de madeira e de tela, sobre os quais foram aplicadas preparações diferentes, demonstrando a capacidade adaptativa e experimentalista deste pintor. O desenho subjacente, visualizado sobretudo no núcleo de Arouca, caracteriza-se por um traço seguro, contínuo e suave, feito a pincel, demonstrativo da sua destreza. No que diz respeito à camada cromática, esta composta por pigmentos comuns na época, aglutinados em óleo. O estudo dos estratos de tinta permitiu identificar um processo de simplificação técnica que se deve, provavelmente, a uma crescente influência italiana, bem como à evolução natural das capacidades técnicas do pintor, fruto de um percurso laboral profícuo. O desenvolvimento de processos de degradação identificados nas camadas cromáticas foi igualmente abordado nesta investigação, contribuindo para a compreensão de algumas alterações cromáticas observadas nas pinturas e para a demonstração de outras, que passariam despercebidas sem esta análise, como é o caso da cor verde presente nos mantos da Virgem do núcleo de Alcochete, que não corresponde à cor original, mas se deve ao fenómeno de degradação do esmalte.
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