Summary: | As empresas estão cada vez mais dedicadas à inovação, no entanto, essas atividades, especialmente se tratando de inovações disruptivas, frequentemente são dispendiosas e com resultados em longo prazo, podendo levar a uma competição por recursos com as operações em andamento, estas, responsáveis pela manutenção da empresa em curto prazo. A chamada "ambidestria" é a capacidade organizacional de realizar simultaneamente "exploitation" e "exploration", explorando as habilidades existentes através de melhorias e inovação incremental, sem abandonar a exploração de novas oportunidades, através de inovações disruptivas/substantivas. Contudo, isso pode exigir diferentes estruturas organizacionais e contextos de trabalho. Assim, esta pesquisa objetivou analisar, do ponto de vista organizacional, como uma empresa ambidestra brasileira do setor automotivo se organiza e empreende esforços no desenvolvimento e balanceamento de exploitation e exploration. Foi realizado um estudo de caso único, com características longitudinais, qualitativo, não experimental e promoveu-se uma análise descritiva. Além disso, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, buscando melhor compreender o fenômeno da ambidestria organizacional, seu conceito, tipos de aplicação e contextos. A coleta de dados se deu por entrevistas semiestruturadas com engenheiros, gerentes e analistas relacionados às áreas de inovação, desenvolvimento de produtos, engenharia e manufatura, bem como por conversas informais e análises documentais. Os resultados mostraram a existência de vários comportamentos ambidestros na organização da empresa. No entanto, a empresa não tem estruturas separadas para exploitation e exploration, apontando, portanto, a ausência de Separação Estrutural. Isso poderia se dar pela relação matrizsubsidiária existente quanto à inovação e a importância do conhecimento tácito neste setor. O processo de inovação é, geralmente, formalizado seguindo o modelo de Stage-Gates, e tanto a inovação incremental quanto a substantiva/disruptiva seguem o processo formal desenvolvido na sede. Entretanto, esporadicamente, a inovação incremental é conduzida informalmente dentro dos departamentos de engenharia. Nesse sentido, existe uma certa "Ambidestria Contextual", especialmente no trabalho dos engenheiros, que não vêem suas atividades diárias como exploitation, como de fato elas são. A presença de Estruturas Paralelas dentro da organização foi notada no trabalho dos engenheiros, que têm seu tempo formalmente dividido entre o desenvolvimento de projetos de exploration e as funções habituais de exploitation, bem como na atuação do departamento de Conceito e Integração do Veículo, que, além de desenvolver atividades de exploration, atua em parte do gerenciamento de projetos e nas atividades de exploitation executadas na Engenharia de Produto. Por fim, a abordagem longitudinal evidenciou um comportamento de Balanceamento Temporal devido à criação e subsequente desaparecimento de várias iniciativas de inovação, além da grande variação no número de funcionários dedicados às atividades de inovação ao longo do tempo. Uma contribuição relevante à literatura de ambidestria foi evidenciar como os comportamentos ambidestros se manifestam na prática, dentro da empresa analisada. A partir disso, notou-se a possibilidade de se apresentar diferentes comportamentos ambidestros em uma empresa, e mesmo no desenvolvimento de um único projeto, de acordo com o tipo e complexidade deste. Essa possível transição entre os tipos de ambidestria não é algo evidenciado na literatura, portanto, pode ser considerada uma contribuição pertinente desta pesquisa.
|