Resumo: | Esta tese propõe um estudo da releitura cinematográfica realizada pelo ensaísta e poeta Manuel Gusmão na escrita do roteiro do média-metragem Carlos de Oliveira Sobre o lado esquerdo (2007), dirigido por Margarida Gil. A partir do filme, pode-se perceber que Manuel Gusmão, poeta renomado e acadêmico que estudou por anos os livros de Carlos de Oliveira, expande a obra do poeta da Gândara no cinema. Mas não só, uma vez que é possível verificar, especialmente no livro A terceira mão (2008), uma tentativa de pensar (e solucionar) ali alguns aspectos centrais da poética de Carlos de Oliveira. Para alcançar este objetivo, a pesquisa centra-se no conceito de dialogismo, escolha que se justifica quando se leva em consideração que está presente nas obras poéticas e ensaísticas de Manuel Gusmão, como comprova o título do livro que reúne seus textos acadêmicos, Uma razão dialógica (2011). Acrescenta-se a isso o fato de que a concepção de poesia de Carlos de Oliveira, especialmente quando se tem em mente as reflexões contidas em O aprendiz de feiticeiro (1971), também se concentra em uma discussão dialógica. Importa mencionar que, para a composição do roteiro, Manuel Gusmão propõe uma colagem, recurso utilizado em alguns textos pelo poeta da Gândara. Para tanto, o ensaísta faz de Finisterra: paisagem e povoamento (1978) o cerne para a estrutura fílmica proposta, uma vez que, com o intuito de constituir um fio narrativo, é esta a obra que fornece ao média-metragem seus personagens e conflitos. Esses trechos se unem a outros fragmentos, retirados de outras obras de Carlos de Oliveira. É, então, a partir dessa costura de fragmentos que se tem a possibilidade de uma expansão da obra de Carlos de Oliveira pelas mãos de Manuel Gusmão, de modo que, como nos versos de Lavoisier, de Sobre o lado esquerdo (1968), se coloca em prática a ideia de uma poesia capaz de sonhar outra forma.
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