Resumo: | O problema da identidade pessoal é, talvez, o tópico mais polêmico da filosofia de David Hume (1711 1776). Três fatores contribuíram para fomentar tal polêmica: a inovação da explanação humeana ao definir a mente como um feixe de percepções que não possui identidade perfeita; a confissão, no Apêndice, de insatisfação com sua própria explicação e, finalmente, o abandono do problema nas obras posteriores. A literatura secundária aborda a questão da identidade pessoal procurando detectar a inconsistência na teoria, reconhecida por Hume, a fim de apontar a real natureza da insatisfação humeana. Esta dissertação segue um caminho diferente. Nosso objetivo é analisar a recepção da teoria humeana por dois filósofos contemporâneos a Hume: Thomas Reid (1710-1796) e James Beattie (1735-1803). Nesse sentido, nosso trabalho é prioritariamente histórico e procura reconstruir as críticas de Reid e Beattie à filosofia humeana. A escolha por estes autores é justificada pela importância de ambos para o contexto filosófico moderno. Representantes daquela que ficou conhecida como filosofia do senso comum, Reid e Beattie fizeram uma leitura da filosofia humeana sobretudo no Tratado da Natureza Humana que contribuiu para a difusão da imagem de um Hume radicalmente cético. Não por acaso, Hume lançou uma nota renegando o Tratado. Tal nota foi caracterizada pelo próprio autor como resposta completa ao Dr. Reid e àquele seu colega tolo e fanático, Beattie. Dessa forma, procuramos, no primeiro capítulo, analisar a explicação da identidade pessoal oferecida na seção 1.4.6 do Tratado e examinar a natureza da insatisfação de Hume retratação do Apêndice. No segundo capítulo, apresentamos a crítica empreendida pelos filósofos do senso comum à via das idéias, da qual a explicação humeana da identidade pessoal é um dos produtos, e mostramos a alternativa oferecida por Reid para tentar resolver os problemas da teoria de Hume. Finalmente, no terceiro capítulo, examinamos as críticas de Thomas Reid e James Beattie especificamente à noção humeana de identidade pessoal; críticas estas que, simultaneamente, promovem os princípios da filosofia do senso comum por eles proposta.
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