Caracterização multidimensional da dor lombar em idosos: dados do estudo Back Complaints in the Elders BACE Project

A dor lombar (DL) é a condição de saúde mais incapacitante mundialmente. Segundo o Global Burden of Disease Study (GBD), que desenvolveu um indicador denominado DALY (Disability Adjusted Life Years Anos de Vida Ajustados por Incapacidade), a DL apresenta seu pico de ocorrência na sexta década de vid...

ver descrição completa

Detalhes bibliográficos
Autor principal: Fabianna Resende de Jesus Moraleida (author)
Formato: doctoralThesis
Idioma:por
Publicado em: 2019
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/1843/BUBD-ADDN7F
País:Brasil
Oai:oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-ADDN7F
Descrição
Resumo:A dor lombar (DL) é a condição de saúde mais incapacitante mundialmente. Segundo o Global Burden of Disease Study (GBD), que desenvolveu um indicador denominado DALY (Disability Adjusted Life Years Anos de Vida Ajustados por Incapacidade), a DL apresenta seu pico de ocorrência na sexta década de vida. Entretanto, são escassos os estudos que a investigam nesta população, segundo a abordagem biopsicossocial. Além disso, sendo a maior parte dos estudos epidemiológicos em DL conduzidos com adultos, muitos de seus achados não apresentam informações relevantes na perspectiva da gerontologia e geriatria, o que dificulta a compreensão da magnitude de seu impacto nos idosos. Dessa forma, foi estabelecido entre os pesquisadores do Brasil, Holanda e Austrália, o consórcio Back Complaints in the Elders (BACE). Trata-se de uma pesquisa epidemiológica observacional e longitudinal cujo objetivo foi determinar a duração, severidade e curso clínico da DL em idosos com um novo episódio de dor, e identificar possíveis fatores prognósticos de transição para a cronicidade nestes indivíduos. Esta tese teve como objetivo geral analisar aspectos multidimensionais da DL de idosos brasileiros e holandeses participantes do estudo multicêntrico internacional BACE. Foram produzidos cinco artigos resultantes das investigações conduzidas pela pesquisa. O estudo 1 descreveu o perfil dos idosos brasileiros participantes do BACE Brasil quanto aos fatores sociodemográficos, clínicos, comportamentais, de estilo de vida e físico/funcionais associados à DL. Foram considerados nessa pesquisa, subgrupos de participantes estratificados por diferentes faixas etárias, níveis econômicos e de escolaridade. Os resultados mostraram que idosos com 75 anos ou mais de idade com DL apresentaram menores níveis de incapacidade avaliados pelo questionário de Roland Morris (diferença entre grupos de 1,29; 95% de intervalo de confiança - IC: 0,03 a 5,56), melhor percepção de qualidade de vida em sua dimensão fisica (questionário Short Form Health Survey SF-36), maior autoeficácia para quedas no Falls Efficacy Scale International (média de diferença de 2,41, 95% IC 0,35 a 4,46) e menor velocidade de marcha, quando comparados a idosos mais jovens com DL. A comparação entre os grupos de níveis de educação e renda revelou que os participantes com renda igual ou inferior a dois salários mínimos apresentaram maior incapacidade (p=0,01), maior catastrofização da dor (p=0,01) e tempo mais prolongado para a realização do teste Timed Up and Go (p=0,04), em comparação àqueles com maior renda. Participantes com quatro anos ou menos de escolaridade também apresentaram pior desempenho para estas variáveis e, adicionalmente, maior intensidade de dores na perna (p<0,001) e na região lombar (p=0,03). O estudo 2 identificou haver associação entre as variáveis níveis de atividade física e incapacidade em idosos brasileiros com DL, demonstrando haver mediação parcial desta associação por presença de sintomas depressivos. O nível de atividade física foi avaliado pela versão reduzida do International Physical Activity Questionnaire, a incapacidade pelo Roland Morris Disability Questionnaire, e os sintomas depressivos pelo instrumento Center of Epidemiologic Studies in Depression. Sendo os níveis de atividade física dos idosos inversamente proporcional à incapacidade (B=-1,65; 95% IC de -2,32 a -0,99), houve também um efeito indireto moderado por sintomas depressivos. Neste caso, a apresentação de menores níveis de sintomas depressivos foram associados com menores níveis de incapacidade. Para caracterizar idosos brasileiros e holandeses com um novo episódio de dor nas costas, e investigar se características sociodemográficas e de estilo de vida associam-se à dor e incapacidade foi produzido o estudo 3. Este estudo utilizou de informações provenientes de 602 brasileiros e 675 holandeses com 66,7 e 66,4 anos de idade, respectivamente, participantes do consórcio BACE. Foram conduzidas análises para comparar as características dos participantes de ambos os países, e para investigar associações entre características sociodemográficas e de estilo de vida, e intensidade da dor e incapacidade. Os resultados demonstraram que, as populações diferiram significativamente em suas características gerais e os idosos brasileiros apresentaram maior intensidade de dor (diferença entre grupos de 2,01; 95% IC = 1,72 a 2,31) e incapacidade (diferença de 3,95; 95% IC = 3,29 a 4,62). Além disso, os sintomas depressivos (diferença de 8,52; 95% IC = 7,39 a 9,66) e a catastrofização da dor (média de diferença de 7,77; 95% IC = 6,40 a 9,14) foram as variáveis que apresentaram as maiores diferenças entre os fatores psicológicos avaliados, sendo que os piores relatos foram advindos do grupo de idosos brasileiros. Não houve diferença entre grupos para o desempenho no teste Timed Up and Go. Ao controlar o efeito do país, os fatores ser do sexo feminino e ter qualidade do sono alterada foram associados a maior intensidade da dor. Já os fatores ter qualidade de sono alterada, ter duas ou mais comorbidades, e inatividade física foram associados com maior incapacidade relacionada à dor. Ter alto nível de escolaridade foi inversamente associado com intensidade de dor e incapacidade. O estudo 4, ao analisar dados de estudos advindos de três países: Brasil, Estados Unidos e Holanda, identificou que opioides foram usados na prática clínica por idosos com DL. Os dados revelaram que 25% dos idosos dos Estados Unidos apresentaram registro do uso de opioides no período de baseline e até três meses de acompanhamento do estudo, sendo níveis inferiores identificados para Brasil e Holanda. As comparações revelaram que aqueles com registro do uso de opioides neste período apresentaram níveis mais intensos de dor nas costas e na perna no baseline, pior qualidade de vida, e mais idosos deste grupo apresentaram sintomas depressivos. Finalmente, o estudo 5 foi o desenvolvimento de um protocolo para revisão sistemática para investigar os efeitos de exercícios físicos para dor, incapacidade relacionada a dor e capacidade física e funcional em idosos com DL. Este protocolo destacou a importância do estudo da abordagem terapêutica por meio de exercícios em idosos com DL, sendo publicado em abril de 2016 pela Cochrane Database of Systematic Reviews.